segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Da vida de Ana - Parte Primeira

Ana não gosta de muitas pessoas, na verdade, Ana é muito seletiva quanto a relacionamentos pessoais de uma maneira geral.
Ás vezes Ana descorda de todos só para concordar consigo mesma, e, embora isso possa parecer um ato de valentia, Ana é covarde mais da metade do tempo.
Desde muito pequena Ana tinha medos absurdos.
Aos quatro anos, medo de palhaço. Aos sete, medo do escuro. Aos dez, medo de altura; aos doze, medo de sangue; aos quinze, medo dos meninos; aos dezoito, medo do vestibular.... Hoje ela já superou muitos dos seus medos, mas novos deles vieram e Ana quase nunca sabe como agir quando eles se relacionam de frente.
Ultimamente Ana têm sentido emoções inéditas, e não que isso seja bom.
O medo mais recente de Ana é sofrer de amor eternamente.
Escolher sempre errado não é lá muito motivador... Na verdade isso é realmente péssimo.
O coração de Ana queria tanto alguém pra compartilhar seus desejos, suas cores, suas fantasias, maluquices, seus segredos, felicidades, dores, cafés e sorvetes variados.
Sua rotina e seus medos a acompanhavam todos os dias do ano há vários anos, assim como os cigarros, os cafés e as vodcas nos bares chulos da cidade.
Talvez o coração de Ana chorasse todos os dias, mas ninguém sabe disso, ela nunca falou.
Aqueles olhos eram rasos de tão profundos, mas ninguém via nada que estava escondido naquele ar todo sério e requintado.
Quando Ana conseguia dizer algo, era de uma forma tão subjetiva e esclarecedora ao mesmo tempo, que quase ninguém a escutava, a compreendia.
Ana-camaleoa era quase imperceptivel em suas penúrias.
Retraia seu medo quando o retratava, e quando o retratava era mentira.
Qualquer um entenderia se Ana confessasse: QUERO AMAR! Mas Ana não acha que isso fosse algo aconselhável, elegante ou apropriado.
As noites dela eram feitas de guardar:
Guardar sapatos em boas caixas, guardar as caixas. Guardar colares, pulseiras e os seus brincos. Lavar e guardar seus pinceis, suas pinturas, alfinetes; armazenar suas cadernetas, suas canetas, papeizinhos, embalagens, cadernos, livros. Esconder restos de flores, bombons, algumas lembranças, desejos, amores, datas, telefones, nomes, fisionomias, letras de musicas e enredos de livros! Guardar termos arcaicos, nome de lojas, ingredientes de uma torta qualquer, paixões involuntárias, pulsos reprimidos, idéias afogadas, ideais fajutos. Guardar a fim de esquecer orgasmos interrompidos, carinhos não recebidos, a programação da T.V... Guardar endereços e títulos de filmes.
Ana guardara por toda a vida tudo sempre. Tudo aquilo que lhe pareceria útil de alguma maneira, em alguma época de sua vida, ou simplesmente coisas bonitas que pudessem enfeitar seu âmago de alguma forma distinta.
Vez em quando vasculhava uma ou outra lembrança, uma ou outra caixa, qualquer uma emoção... Quando se sentia só, fuçava seus pensamentos guardados, seus amores platônicos -nem perto de serem carnais-, suas metades de vida eram usadas como passatempo enquanto sua xícara de café se esfria lentamente.
As sombras dos seus medos a impedem de viver de uma maneira satisfatória ou uma felicidade comum que seja. Ana se sente só mais uma na sociedade. Uma em um bilhão, um coração sozinho, como tantos outros...
Ana viaja imaginando a vida que queria pra si, com o coração sufocado em lágrimas, sentada no sofá de seu apartamento, sutilmente pensando:
- Como seria minha vida, se eu a vivesse?

2 comentários:

Cássia disse...

êta Aninha! u.u

Luana Diaz Pagliarini. disse...

Ana Parte II, Ana parte II. eu quero! *-*