sábado, 28 de fevereiro de 2009

Lamaçal

E encontro-a atada nos fios de seu ninho de dor e desespero.
Andou comendo a lama crua do seu desamor.
É órfã de mãe e quase já não vê o pai.
Embora cansada, luta contra toda a sua rebeldia que custa ir embora.
A cada vinte e quatro horas passadas mais sua cor se esvai.
Tento impedir, pois é de se fazer qualquer coração partir o estado em que a vejo.
A cada tempo que passa menos a vejo sorrir ou gritar.
Pouco a pouco ela desiste de escapar.
Impossível tira-la dali:
Inconfortavelmente deitada na podridão que se fez seu existir.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Minha Alma e Eu

- Corre! – gritou minha alma pra eu - Anda corre!
Mas não posso ir.
Na verdade não sei pra onde iria.
Não tenho outro teto emprego fixo ou modo de viver.
Não venderei meu corpo, e não poderia levar nada mais que umas trocas de roupa.
Contestei a alma, meio inconscientemente.
- Vai, arruma a mochila! – insistia ela, sempre me cutucando os botões – Que que há? Anda logo e vai!
Quase ia.
Quase fico.
Quase vou.
Mas só? Somente sair? Só eu em mim?
Outra vez perante minhas dúvidas e covardias a alma gritou-me forte, bradando com ousadia:
- Menina, anda, corre! Vá em busca do amor que te merece e se pinte da cor da felicidade!
Foi tão encorajador ouvir três vezes a voz da minha alma.
Nem me dei conta.
Nem tinha mochila, nem dinheiro ou destino.
Nem tinha nada, só eu indo, e bem rápido.
Quando dei por mim ouvi de novo ela gritando, banhada de certeza.
Em tom de despedida e voz distante minha alma disse acenando:
- Mande um beijo às três-marias e abrace a lua por mim!

Cansaço de Amor Cansado

Tenho estado cansada de não escutar sua voz, e depois de tanta vontade e insistência, ter sua voz fria a fios de distância se torna pesado.
É ruim ver de longe ou não ver o que se passa.
Eu quase mal mastigo a aflição de que pode ter um alguém outro.

Tenho estado cansada de tanta falta de tempo, de tanto tempo sem papo.

Não mais dar tempos.
Os tempos que se dão, que dêem uns aos outros, os tempos que se danem.

Me sinto, sinto muito, mas ainda assim, é muito tempo sem ter-te, e se caso ter-te ser só dois dedos, ser só de passagem.

Tenho estado cansada de receber-me fria, te não escutar, de não ler-me em palavras bonitas.

Não posso mais achar plausível ler palavras antigas para me convencer que minhas queixas são penúria e que de ti tenho barriga cheia.

Tenho estado cansada de ter certezas guardadas que me são como incertezas juradas de desgosto.

Não posso mais com menos nada.

A cada segundo, a cada tempo que passa eu quero mais você, mais a gente.
Mais estrada, mais tempo pra eu decifrar você inteira.
Pra eu ter uma variedade de gestos, uma variedade de beijos, uma coleção de hálitos.

De menos, o único que almejo, é ter você menos cansada.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Papo de tempo, universitário ou mesa de bar...

Juro por deus do céu ou pela puta da terra que declaro maldita a bendita da hora em que eu nasci!
Durante minha adolescência toda me senti um peixinho fora d’água.
Enquanto escutavam baladas românticas no primário, eu queria saber de Ramones, de Sex Pistols e até mesmo de Beatles e Roliing Stones. Já usava couro, já falava palavrão aos quinze e na minha gaveta eu guardava camisinhas, cigarros e uma carteira de identidade adulterada.
Na minha agenda eu já tive fotos de meninas de biquíni, do Sid Vicious, John Lennon, Ringo Star, Madonna, Kurt Cobain, e da Cindy Lauper.
Na faculdade minha mãe me contestava sobre as garrafas, sobre os amigos dormindo em casa, sobre as amigas andando peladas, pelas paginas do hinário católico arrancadas e por ter mais pó nas minhas gavetas que num saco de cimento.
Eu aos trinta com a merda toda feita, não procurei nunca voltar atrás, fui sempre vivendo mais, perdida e meia.
Nunca amei nem fui amada, mas da pele sempre fui muito bem saciada!
Já vi corpo de homem e mulher pelada, mas alma de gente boa nunca encontrei.
Talvez não procurasse demais, ou não me vi capaz por milhares de vezes de me deixar sofrer. Agora também tanto faz, com amor ou não o tempo não volta mais.
(Lembrei-me agora do menino Fernandinho, um antigo namoradinho do cursinho)
Agora é cá eu em meio a toda a minha pouca eloqüência, descrevendo minha vida sem ciência de ter certeza ou razão de alguma farpa sóbria dela!
Mas a culpa foi toda de Deus, que me criou mesmo sabendo do meu destino, já vendo que pra minhas olheiras nem mil quilos de pepino dariam jeito de amenizar!
As marcas vêm vindo e não vou mentir, com essas muitas eu aprendi: eu bem vivi por pouco duvidar.
Não tenho sequer um bilhete de loteria, um risco, uma sorte, mas tenho vida vivida e histórias muitas pra contar, metade e meia delas todas vindas de papo de tempo, de carteira de universitário ou mesa de bar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Bailarina das circunstâncias

Eu nunca consigo saber quando você vai voltar.
Eu nunca posso prever toda hora que vai me usar
Eu nem tento entender porque é que você não volta.
Eu já não posso ser tudo aquilo que te faz falta.

Em Partes

Eu odeio saber que ela sempre existiu e que eu sempre soube.
Odeio saber que não te conquistei com um olhar; só com um beijo.
É. Eu odeio saber que as suas atenções são dela, os seus amores pra ela, os receios e medos tão dela.

Eu odeio saber que é ela quem é a dona.
Eu odeio saber que as lembranças delas são maiores que as minha.
Que os beijos dela são mais longos que os meus beijos.
Que o gosto dela é mais intenso em você que o meu gosto.
Eu odeio saber que ela subjetivamente, ou não, afronta meus sentimentos e coloca-se em destaque só pra provocar.
Eu odeio saber que ela me instiga, ainda mais além de palavras bonitas; da cabeça aos pés.
Sim! Ela faz só por prazer! Por saber que eu odeio saber!

Eu odeio saber que ela sempre existiu e que eu sempre aceitei isso.
E odeio saber que ainda assim eu faço meu papel romântico e sigo amando.
E pior que amar, é saber que eu odeio saber...

– Amores: Huunf!

A Paródia

Ingrid Regina de Lima Garcia. Mesmo com pressa, despreza o elevador, são muitos degraus, vários, e ela ainda carrega uma mala enorme.
Doze.
Entra pelo corredor subitamente assustada com o estado do lugar, não se houve nada vindo das salas, nenhum ruído que dê a possibilidade de uma presença humana naquele lugar; ela se distrai com uma frase escrita a lápis na parede e entra no ultimo escritório. Experimenta a maçaneta sem leveza nenhuma, que não cede, a porta com o madeiramento todo empenado, consegue abri-la quando força o ombro. Uma sala suja, sem espécie nenhuma de presença humana, apenas uma praga que lhe escapa. Ela pensa em voltar ao corredor, pega-la, mais é surpreendida.
Atrás da mesa principal, uma moça linda, baixa, cabelos compridos, olhos penetrantes, ali, em cima de uma mesa, de roupa muito sensual, um espartilho curva ainda mais o vestido vermelho encarnado que ela usa com um decote esbanjador; parece que as coisas que vêm dela não ornam, nem com seu rosto, nem com sua pose, nem com sua arma estendida na mão direita com aquele ar de ameaça:
- Nessas horas, aí então você acende um cigarro. - disse a moça, a voz toda banhada em ironia, parece incrível como Ingrid parecia saber até de suas palavras – Estava te esperando
– Me esperava? Como? Ninguém soube que cheguei a tal ponto!
– Eu sabia que viria.
O desespero de Ingrid é confuso, fuma sete cigarros durante aquele dialogo podre em sarcasmo.
– A perdi. - Foi essa a resposta dura de Ingrid quando a moça a indagou sobre a vida.
Ingrid apenas se deslocou a um canto menos iluminado, fumou meio cigarro, e se lançou do parapeito da janela, porém existia uma barra fina de metal escondida entre as cortinas emp0eiradas (que fazia da sala de escritório uma penuria), que a impede de se jogar e cai desmaiada.
– Esperava que tentasse suicidar após a surpresa de eu não te matar. Preparei-me.
Quando Ingrid acorda vê a moça trancando tudo e desprezando as chaves.
– Não pode me prender aqui!
– Porque não, afinal você já perdeu a vida, não?
– Talvez ainda há saída, jeito razão, um amor...
Porém, os pensamentos que Ingrid tem a deixa menos otimista ainda que o comum, e é quando o conformismo a deixa menos ansiosa pela fuga. Em meio a seus penamentos rancorosos definhar ali não parece tão ruim:
– Talvez não exista mais nada pra mim.
– Ficaremos aqui então, por dez, vinte, ou cinqüenta anos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Anatomia

Não penso,
Não tenho mais cérebro; faltam-me neurônios.

Não choro,
Não posso ter lagrimas; perdi meus olhos.

Não beijo,
Não tenho boca; não há mais lábios.

Não há sexo,
Não tenho ânsia; faltam-me hormônios.

Não existe sensualidade,
Não tenho bunda e nem quadril ou coxas

Sou estéreo, me sumiu o útero.
Não posso ter filhos; não tenho seios.

Não mastigo, caíram meus dentes.
Nem sinto fome; não há estomago, tripas.

Minhas pálpebras são inexistentes,
Já não durmo mais.

Não há passos, pegadas,
Perdi os pés, pernas e os joelhos.

Não sinto aromas; estou sem narinas.

Não há cachaça pros meus rins.
Não há rins.
Não existem cigarros suficientes pro meu vicio.
Já não tenho pulmões.

Nenhuma aspirina pra minha ressaca.
Nada cura minha dor de cabeça; não tenho cabeça

Não existe um corpo,
Estou em decomposição.

- Respiro. -
Não respiro.
Não há fôlego, falta-me a laringe.

Grito e não tenho garganta.
Canto e não tenho diafragma
Toco mas não tenho dedos.
Escrevo mas não tenho mãos.

Quando quase sofro me convenço de que não tenho alma.
E, aí, quando eu quase amo, me lembro de que eu não tenho um coração.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amante Feito Café

Andei gritando muda pelas linhas hoje cedo, e o pior não é nada (é tudo!)
A verdade é que este café amargo e frio d'outro dia, me fez relembrar o gosto seu quando por vezes foste minha.
Sempre que lhe tive outra já lhe tivera antes e o que me sobrava era um pedaço de sexo amargo e frio, no qual confesso, me deleitava.
Suas pernas finas dentro das minhas e sua boca chegando a vagar em lugares antes só meus me faziam rir e sussurrar algo cor de violeta transparente.
Quanto ao café, acabo de deixá-lo derramar-se sobre esta nota indigna de qualquer apreciação.