terça-feira, 31 de março de 2009

A Do Começo

É bom ver tudo caminhando bem, timidamente, mas bem. Como aquele bolo que cresce, dá uma murchadinha e você mete uma cobertura em cima pra disfarçar o buraco que aquela murchada deixou por alí.
Embora por mais doloroso que seja, no pensamento cobertura nenhuma consegue disfarçar as murchas frestas.
A memória acaba que tem tudo guardadinho e não faz questão de relembrar, pelo menos ainda não.
É parecido com a lembrança de uma tarde tão bonita que poderia passar melhor sem aquele tombo, embora cair não faça mal grave a ninguém.A gente cai quantas vezes for necessário pra que no fim saia andando sem apoio e aprende andar de verdade esperando o risco de novos tombos em tardes bonitas sem que sequer seja necessário se preocupar com os incrédulos, sabendo que ter fé é se preocupar com o próprio umbigo (gordo, mas umbigo) e não depender de migalhas, mesmo porque as tardes tão cheias de pombos por aí para recebê-las.
É dificil, mas é confortante acabar por perceber sozinha que a melhor parte dos problemas é superá-los e que picolé-de-limão-com-gosto-de-japonês-de-sunga é melhor que muita coisa, e aí, ah! Aí não há quem pague, não mesmo!
Mesmo tendo aprendido, tendo caído e tendo despensado migalhas eu ainda continuo a mesma do começo, aquela que pega as coisas do chão sem dobrar os joelhos.
A primeira sensação prevalece e ainda que de um jeito diferente eu novamente passo os dias como se estivesse em um lugar bom, com alguém que eu gosto...

Sobre o Meu Fetiche de Trepar com o Vento

Ele me beija sem delicadeza alguma.
Toca minha boca, e não apenas o meu rosto, mas também todas as partes do meu corpo. Pouco a pouco alcança dimensões extremas no meu organismo.
Fazendo meus olhos fecharem enquanto despenteia meus cabelos, dança por entre minha nuca e traz arrepios deliciosos, incapazes de serem causados por outrem.
Meus poros se abrem a abraçá-lo, aconchegando suas caricias aos meus pêlos.
Eu quase abro os braços, a fim de senti-lo escorregando pela minha cintura, invadindo-me!
Desvendando-me!
Seu beijo deixa-me sem saliva alguma, cortando meus lábios como uma navalha de uma lamina bem afiada, congelando minha língua num misto de prazer e dor lancinante.
Meu pulmão respira quase ofegante enquanto minhas pernas se movem lentamente e sem exatidão alguma.
O meu corpo se estremece totalmente afetado a cada tato da brisa no meu rosto.
O vento que baila em mim me traz aromas indescritíveis e fios de gelo insuportavelmente deleitáveis.
O que sinto quanto o vento me ataca?
Tesão.

Tarefa de Casa

Na minha cabeça um barulho me enoja, assoviando gritos sem parar.
Enquanto vejo gráfico, cálculos de física e resumos de matemática, assumo as memórias de uma vida vazia, que vai além de números e teses filosóficas.
Quase fecho os cadernos e livros;
Olhando com os olhos fechados penso em coisas...
... minhas dores bem maiores que velocidade média ou regra de três.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Acróstico Ausência

Assim como ontem à noite a lua no céu
Um sol agora amarelo e murcho está a pino em sua ida,
Sem sequer tocar-me os lábios com a boca que me mamou,
Encosta a porta do quarto e vai-te.
Noites várias, sempre assim em teu fel bombeando minha vulva,
Conhecendo o delicioso amargo do meio de suas pernas e
Irracionalmente desejando enfiar-te em mim de novo, por inteiro
Apenas esperando por gozar fios na sua ausência.

terça-feira, 17 de março de 2009

Noite Sem Fugas.

Por debaixo dos meus lençóis, a noite murmurava desatinos românticos a mim, revelando meu desespero e solidão.
Não haviam lagrimas, apenas gritos mudos saídos do meu peito, quebrando toda a sanidade e esperança que ainda continha nos meus olhos pequenos e rasgados.
O dia chegava, junto com o sol das seis da manhã, enquanto frases como “-ele não sabe amar” passavam pela minha cabeça.

domingo, 15 de março de 2009

Sobre a Fraqueza de Amar o Impossivel

Sobre a Fraqueza de Amar o Impossivel -
Um Amor de Verão (O Sol e a-mar).

Não havia nada que me cegasse tanto quanto os reflexos do seu brilho batendo contra as ondas da praia.
Fiquei sentada ali, completamente inerte em meio aquela floresta de pedras, apenas observando aquela luz que subia de acordo com a maré batendo nas rochas e molhando minhas pontas dos dedos.
Quando enfim chegou a tarde e aquele astro gigante foi se deitando sobre a água, era explicita a paixão dolorida daquele gesto que até mesmo o céu se redimiu e aceitou ser colorido em tons alaranjados, pintando a paisagem de mais um amor impossível, enquanto o sol beijava as ondas.
Meus olhos turvaram-se diante de tanta luz, e foi preciso ouvir o silêncio, o vendo chegar de olhos fechados.
Tão grande, o Sol num sinal de amor imenso debruçava-se sobre as águas salgadas, fazendo-se pequeno e dando espaço às estrelas acompanhadas da escuridão, esvaindo-se só pelo horizonte, convidando a lua a cuidar da sua praia.
O sol gemia, como se fosse uma tortura mortal ter que deixar de estar a pino brilhando sobre aquele oceano.
Quando a noite veio e ele gritou mudo toda a sua fraqueza perante seu amor, eu pude ver o quanto o sol era apaixonado pelo mar.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Os Dias.

Será que daqui a anos eu irei me lembrar de você?
Às vezes eu paro pra pensar.
Tantas coisas que passaram e há dias eu lembro e esqueço.

Eu acho que devo me apaixonar,
alguns dias acho que te amo...

Tenho tempo certo pro incerto,
dias contados.
Você me fala e eu nem acredito mais.
Talvez bem menos do que eu sempre quis,
mas é bem mais do que me faz sonhar.

Há dias que suas lembranças sou eu.
Há dias que minhas lembranças são você.
Há dias atrás pensei em confessar que me viciei em você...
Há dias te desejava,
e há dias que te desejo todos os dias.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Segunda Dama

Não há remédio pro mal feito!
Na janela que está não corre vento.
Deixando o quarto pintado do seu jeito,
Ela despenca dura do para peito!
Na rua moralista diziam – bem feito!
A moça quase não tinha defeito.
Mas foi falta de sorte e tremendo despeito
Ter ela dormido com o Senhor Prefeito.

(Em)Certeza

Eu sei, sou racional e madura o suficiente para não ficar no "e se", mas saber o quanto você se importa, importava e se importou comigo me abalou as estruturas...
Não acho nada em relação a isso. Não tem como achar. Mas...
E se...

Medo

De de repente você sumir.
Feito cheiro de café pela manhã.
Vai embora no ar, antes mesmo que eu termine meu omelete.

terça-feira, 10 de março de 2009

Havia Uma Fagulha (Ele Não Me Vê.)

Ainda viva como brasa velha de fogueira, dessas que fazemos ao luar.
Eu que jurava ter largado de mão isso de desejar mais que uma noite, isso de esperar ansiosamente as noticias guardadas no peito de outro alguém.
Romantismos, cuidados, querer bem, olhar por através de cegueiras.
Mas ali estava ele, em fagulhas, porém ali...
Eu mal o vi acendendo.
Depois de tanto tempo eu não consegui mais distinguir o calor afetando meu coração, me queimando devagar.
Quando enfim reconheci aquele ardor delicioso cor de laranja, como o coração acesso, eu implorei a mim a sinceridade com o sentimento e eu dormi implorando pelo seu coração junto ao meu.
Ah! Eu pedi aos céus, aos piratas para que roubassem seu amor para mim, ofereci recompensas a quem trouxesse refugiado seu coração! Clamei as estrelas, aos querubins, chorei ao cupido por sua causa, deitei debaixo da luz da lua e pedi ao seu brilho que me fizesse brilhar seu amor, roguei aos anjos e aos santos, mas foi Deus que no vento assobiou em mim uma musica.
Tentei encontrar mil modos de dizer, escrevendo cartas dedicadas a você, juro que assobiei mares nos seus tímpanos, porém não me ouvistes. Estava cego.
O que eu temia e minha alma estremecia aconteceu.
Você nem via, mas antes que eu pedisse a canção era pra ter visto nas minhas letras o pedido de amor.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Bebidas e outros solventes

Segunda-feira vem cortando meus ossos quase me convencendo que sou forte por conseguir levantar às seis da manhã mesmo com os neurônios derretendo, me dando a sensação de estarem quase escorregando pelos meus ouvidos, multiplicando por três o barulho de tudo.
Degraus, passos, grampeadores, teclas, um bom dia que seja já me é o suficiente pro meu rosto se corromper numa careta ordinária, me fazendo ouvir olhares gritando, narrando e decifrando minhas noitadas, cada ruga vinda do meu vicio, minha alma amassada e minhas marcas.
E nessa dimensão, o que me resta é falta, essa mordida insuportável do vento, uma mordida que não crava, faz um ato contrário, repuxa pele pra fora, fazendo os poros saltarem numa aflição louca. Sinto no ar a boca me pairando frouxa sobre a pele que procura alcançar desesperadamente seus caninos. Tenho marcas doloridas de solidão, contrapondo uns espaços picados pela seringa.

Embora minha curiosidade seja tamanha, o medo me afasta de uma nova experiência arriscada, de um pingo preto nesse mundo alaranjado, que ando mergulhando em uísque (confesso-me CULPADA!), mas é que há tanto do passado borrado no presente, que quase vejo o mesmo do meu futuro, numa exotérica taça de cristal.
Prazer, essa sou eu, procurando desculpas pra beijar mais uma noite nos meus copos cheios de vômito.


Meu grande amigo Mexicano e eu, Guiga:
André Ulle & Ingrid Regina

quarta-feira, 4 de março de 2009

O Tango da Aflição

Eu não entendo mesmo de onde sai essa aflição, essa angustia louca, essa amargura sem causa, ou então com muitos motivos juntos.
Deixam-me oca essa mistura de sentimentos tristes dançando em meu interior!
Quando chega este vazio e esta tristeza desesperadora meu juízo se esvai.
Sinto frio na barriga, minhas pernas tremem, meus olhos se dilatam, meu estomago embrulha e meu corpo se contorce numa cólica insuportável.
São movimentos involuntários do meu corpo, das minhas emoções, e eu não sei driblar os passos dessas loucuras dançantes, tristes e angustiantes.
Vejo-me prisioneira, me vejo pega, e no auge da minha desesperação me encontro sem saída, com os pulsos doendo de tanto sacudir-me, tentando me livrar dos fios duros dessa mortificação.
Essa tristeza me castiga com as mãos pesadas por entre minha cintura, essa aflição maluca me leva nos seus passos enquanto enfia suas pernas grosas por dentre minhas coxas e essa agonia me tortura maldosamente toda sensual no olhar!
E eu vou indo quase sem escolha, como se na dança de um tango frenético, onde a cada passo um osso se quebra, uma fratura dói e me corta um naco de alma.
Eu não sei de onde vem essa melodia que de tão pesada quase se torna leve, esmagando-me fundo com os olhos presos aos meus, num passo sensual e perigoso, essa dança impaciente, inquieta e esmagadora, na qual dançá-la torna do meu risco a morte por sucumbir-me a essa tristeza liquidante.

terça-feira, 3 de março de 2009

Meu Homem Fora do Meu Nordeste

Saudades, meu homem.
Meu céu,
Mel ser,
meu cheiro e mel.

Como vais?
Não voltarás?
Ai meu bem, porque estais
a deixar-me a penar?

Vem e toca-meque lhe desejo!
Ai meu deuso, vem e diga-me
os seus anseios,

e lhe faço a corte
dou-lhe toda prosa
mais que um sorriso
lhe entrego minha rosa.

E, tu dentro em mim,
resolva os desejo teus,
fazendo com que eu sinta em meu alegro mais de tu.

E se já não posso sonhar, chamego,
agora devo lhe confessar
que sem tu por perto estou sozinha
e sem teu cheiro fico a lhe esperar (imaginar, desejar, chorar e soluçar).


Dedicado a João Diniz .

segunda-feira, 2 de março de 2009

Sonhos Brancos.

Entrei.
A casa inteira limpa, os tapetes de barbante limpos, a pia sem talheres ou copos sequer, as camas todas feitas, os armários sem pó, enfim, tudo impecavelmente perfeito.
Era fim de tarde e as minhas pernas doíam e sem mais cochilei numa das camas.
Sonhei ao pregar os olhos, um sonho louco. Tão vazio, e tão claro quanto nebuloso.
Havia um painel branco, enorme e branco.
Quando acordei estava ali, toda arrepiada, na cama ainda.
E da casa inteiramente limpa vi-me em minha alma vazia.
Tão limpa ela quanto a casa.
E tão vazia também.
Tão limpa como se ninguém nunca mais tivesse pisado os pés cheios de lama nela.
Tão desinfetada que dava medo.
Minha alma limpa amedrontou-me.
Vi então o que sonhei no meu sonho num branco infindavelmente branco, vazio e claro o suficiente pra ser sombrio, como minha alma.

Os Sonhos da Moça Como a Mãe de Deus

Primeira Cena
- O xixi
Maria chega ao banheiro vestindo uma regata branca e uma calcinha grande.
Leva um maço de cigarros, um roupão e duas toalhas que dependura num cabideiro.
Faz xixi com as calcinhas pelo tornozelo e depois dá descarga.
Abaixa a tampa do vaso sanitário e senta com as pernas encolhidas com os joelhos a altura do queixo, acende um cigarro, traga e então há um monologo narrado.

Segunda Cena
– A indecisão


Imagem: personagem pensativo fumando.

O Monologo (narração)
“ - E de que importa se ela é heterossexual e blá blá blá e não me quer por isso?
Posso muito bem superar e bola pra frente, até mesmo porque aquele carinha do colégio é muito simpático e muito bonitinho, deve ser bom de cama também, acho que eu namorasse com ele teríamos dois filhos, um menino e uma menina que se chamaria Emilia, mas em todo caso não sei bem não. E se eu não gostar mesmo de meninos, e se na verdade, minha felicidade estiver entre as coxas largas típicas de moça?
E se ela fosse bissexual? Poderia ficar com ela pra sempre... Quer dizer, isso se eu fosse menos complicada!
O moço do colégio estuda química, e eu pensando em história, publicidade, cinema ou letras. Nem decidi! E ele todo maduro! Não daria certo não, não namoraríamos.
Acho que nunca darei certo com alguém, sempre gosto de pessoas distintas, e nem sei, mas ele tem jeito de gay! E se ele for homossexual?
Mas eu também seria uma solteirona bem humorada, só.
Gosto de ficar só.
Minha casa estaria sempre organizada e nunca, ou quase nunca, teria farelos nos tapetes da cozinha.
Na verdade eu prefiro assim.
É. Vou estudar tudo, namorar meninos, casar com meninas, depois me divorciar, ter filhos, depois ir morar sozinha...
...Mas é muita coisa pra decidir tudo hoje, eu acho.”

Terceira cena
- Lavando com Água Seca.


Ao fim do monologo narrado Maria traga e o olha o cigarro quase no fim, expressando um ar de decidida, bem espontâneo, já que é um personagem indeciso e mal ensaia caras concretas, só esboça bem sorrisos. Depois, soltando a fumaça, levanta e entra na parte de dentro do box de banho; traga o cigarro, lança o cigarro perto do ralo e solta a fumaça; despi a regata e tira a calcinha.
Liga o chuveiro, e enquanto o jato revela seus cabelos até a cintura o cigarro é mergulhado com a espuma causada pelo sabonete, escorrendo até o ralo.

Saindo com o corpo enrolado numa toalha e outra no cabelo escreve no espelho embaçado: Maria de Deus.



Os Sonhos da Moça Como a Mãe de Deus , Mauá, 31 de Outubro de 2008, Roteiro/Curta Metragem, DE LIMA, Ingrid Regina.