sábado, 19 de dezembro de 2009

Da Vida de Ana - Parte Segunda

Ana ainda pensa que o dia não passou


“ A coisa mais extraordinária que pode acontecer a alguém é se apaixonar” – dizia o livro que Ana estava lendo na ultima sexta.
Ana era provavelmente a garota mais doce de sua cidade, além de meio sociopata, carente e ocupada. Diariamente Ana trabalhava – em dois empregos – estudava e cuidava do seu sobrinho mais novo, o que já podia ser considerado tarefa demais, considerando que a maioria das meninas de sua cidade ou trabalhavam, ou estudavam, ou por sua vez, namoravam. Ana não namorava.
A verdade é que não lhe sobrava tempo, sua cabeça estava sempre tão cheia de outras coisas que importar-se com outra pessoa poderia atrapalhar seu desenvolvimento nas outras tarefas, e que para Ana pareciam muito mais importantes do que sofrer, outra vez.
Não fazia parte do padrão mundial comum no que se diz respeito a meninas e nem parecida com outras garotas que conhecesse, embora Ana sempre quisesse conhecer outras garotas.
A vida de Ana seguia sempre o mesmo ritmo, parecia até uma canção sem graça, desgastada, enjoada. Ás vezes Ana compreendia e planejava o compasso do seu dia-a-dia, preferia que fosse assim, sempre igual, sem surpresas, pois afinal da ultima vez não foi muito legal – e olha que eu nem citei o dia em que Ana fez 15 e sua preparou uma festa tão horrível quando a roupa que ela usava naquele dia – Não era ingênua e nem tola, só cansada.
Talvez se alguém gostasse de Bidê ou Balde, café e filmes do TIM Burton tanto quanto Ana acontecesse um romance, mas a probabilidade de que isso ocorra é muito pequena, então é melhor que ela se conforme com a idéia de que nunca ninguém vai cantar Janis Joplin no seu ouvido.
Se fosse num outro dia Ana não repararia na sua nova colega de classe, mas é que naquela quinta ela não havia trabalhado, estava descansada e notou que a menina que sentara ao seu lado era nova na faculdade, vinha de uma cidade vizinha da sua e tinha os cachos mais lindos que os seus olhos já haviam visto.
Claudia, Claudinha pros mais chegados. Era ruiva, era linda.
A aproximação das duas foi tão imediata quanto obvia, afinal, ninguém parecia conhecer Ana tão bem quanto Claudinha. Os mesmo gostos, atores e filmes preferidos, a tremenda paixão pelo café, rock e poesia e o mesmo encanto pela França e o mesmo sentimento quanto aos Norte Americanos e Ana pensava: - onde ela estava esse tempo todo?
Enquanto Ana trabalhava Claudia ensaiava com a sua banda. Tocava sax com uma doçura e precisão incríveis. Quando Ana viu pela primeira vez Claudia tocando não conseguiu perceber o que brilhava mais: seus olhos, seu sax ou seus cabelos vermelhos. As luzes coloridas que vinham do fundo do bar e que refletiam as curvas do corpo de Claudinha deixava as curvas do corpo de Ana se retorcendo – só não se sabe se de medo, vontades involuntárias ou desespero.
Quando Ana parava e lembrava que suas sextas ao lado de Claudia substituía tão bem os cafés, os filmes e os rancores ela se arrepiava. Qualquer um entenderia, porque afinal em três meses ninguém fizera Ana tão feliz quanto ela estava agora.
Eu acho que as lagrimas que caiam dos olhos de Ana enquanto Claudinha justificava que, embora quisesse muito continuar ali, precisaria ir embora, eram mais de desespero que de tristeza. Claudia nunca fora de aquietar-se, e muito apesar de Ana ser excepcional, não seria ela quem terminaria com as aventuras da moça ruiva.
Ana sabia que Claudinha precisaria espalhar sua beleza em outra clientela. Mostrar seus cachos vermelhos em outros bares, dormir com moças de tão bom gosto quanto Ana, mas enquanto sua cabeça matutava e compreendia os desejos da outra, seu coração se apertava, afinal era mais uma vez que os cafés voltariam a atormentá-la no fim de semana.
Ana queria muito resolver essas coisas, mas agora não vai dar, ta tudo de ponta cabeça.

Um comentário:

Luana Diaz Pagliarini. disse...

Adoro o jeito como descreve as coisas. A forma como caracteriza as duas é incrivel, e a forma como caracteriza o sentimento de Ana é tão profunda!
Amei.

Espero anciosamente a 3ª parte!